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21 de nov. de 2010

Eucaristia: Nova e Eterna Aliança em Jesus Cristo

SEMINÁRIO DE TEOLOGIA DIVINO MESTRE

SACRAMENTO DA EUCARISTIA:
NOVA E ETERNA ALIANÇA


INTRODUÇÃO

            Segundo o Texto-base do 14º. Congresso Eucarístico Nacional, realizado em Campinas-SP, em 2001, a Sagrada Escritura “... apresenta cinco tipologias de compreensão da Eucaristia: a páscoa do Senhor, a aliança, o sacrifício, o banquete e a habitação” (Texto-base, 2001). Olhando por essa ótica, esse breve estudo tem o desejo de apresentar alguns aspectos bíblicos e teológicos que envolvem a tipologia da aliança, com o intuito de recorrer a diversas passagens bíblicas ao longo do Antigo e Novo Testamento que nos ajudará a compreensão do título desse trabalho “SACRAMENTO DA EUCARISTIA: NOVA E ETERNA ALIANÇA”.
            Para tanto utilizaremos como texto fundamental, a Sagrada Escritura. Entretanto, vamos dispor de diversos outros livros de teologia para melhor compreensão do tema proposto. Sem dúvida que um assunto tão amplo e difícil não seria esgotado em tão poucas páginas. Portanto, nosso estudo tem como principio uma breve e didática apresentação da Eucaristia, na Sagrada Escritura, como renovação perene da aliança (definitiva) que celebramos em cada Santa Missa.
           
            Capítulo Primeiro


AS ALIANÇAS DO ANTIGO TESTAMENTO


A aliança entre Deus e os homens, entre Deus e o povo judeu, é algo bem presente em toda Sagrada Escritura. Praticamente, em diversos textos do Antigo Testamento, temos diversas situações que mostram ou o estabelecimento de aliança, ou a sua recordação e atualização, quando o povo de Israel se desviava do “contrato” estabelecido com Deus.
No Antigo Testamento, alguns personagens específicos marcam as principais alianças estabelecidas entre Deus e o povo, são eles: Noé, Abraão e Moisés. Também, no Antigo Testamento, diversos profetas e juízes foram incumbidos, por parte de Deus, de lembrar o povo da aliança estabelecida e reconduzi-los no caminho da fidelidade ao Senhor.
Harrington, em sua obra Chave para a Bíblia, define em poucas palavras a força das “alianças” entre Deus e o seu povo. Esse conceito é de muita importância que entendamos, pois Jesus vai resgatar toda essa força de expressão na instituição da Eucaristia:
Para expressar a natureza dos laços que existem entre Deus e seu povo, o Antigo Testamento emprega a palavra berith (em grego diathèkè e em latim testamentum). Em português traduz-se geralmente por “aliança”. O termo “aliança”, que na sua acepção teológica tecnicamente se refere às relações dos homens com Deus, foi tirado da experiência social dos homens, do fato dos tratados e pactos entre povos e indivíduos. Na prática, o uso religioso do termo exprime um tipo especial de pacto, aquele em que um dos parceiros toma a iniciativa e impõe as condições. Deus, por conseguinte, dita os termos, e exige do povo que observe a Aliança (Gn 17,9; 19,5) — e por sua vez se obriga por uma promessa (Harrington, 1985, p. 244).


1. A ALIANÇA COM NOÉ (Gn 9,1-17).


Após o dilúvio, Deus estabeleceu com Noé, representando toda a humanidade, uma aliança de perdão e benção. Deus que havia se arrependido de criar o homem (Gn 6, 6-7), em Sua bondade e amor resolve socorrer o justo, Noé e seus familiares, da corrupção da humanidade, providenciando que a Arca saísse ilesa do dilúvio com toda sua tripulação de homens e animais que representavam toda obra da criação colocada na terra. A aliança que Deus vai estabelecer será uma aliança de perdão e de benção, onde Deus percebe que o homem não poderá mais deixar entregue o seu próprio governo e, o próprio Deus deverá estar constantemente lembrando-o de sua misericórdia e confiança depositada na humanidade:
Disse Deus: ‘Eis o sinal da aliança que instituo entre mim e vós e todos os seres vivos que estão convosco, para todas as gerações futuras: porei meu arco na nuvem e ele se tornará um sinal da aliança entre mim e toda terra. Quando eu reunir as nuvens sobre a terra e o arco aparecer na nuvem, eu me lembrarei da aliança que há entre mim e vós e todos os seres vivos (...). Quando o arco estiver na nuvem, eu o verei e me lembrarei da aliança eterna que há entre Deus e os seres vivos com toda carne que existe sobre a terra (Gn 9, 12-16).

O arco-íris, que bem conhecemos, tem para a linguagem do Antigo Testamento outra conotação. Ele faz lembrança ao ‘arco da guerra’, ao qual colocado ao lado, estendido, representa assim que Deus “desistiu” da vingança para com a humanidade (Cf. Harrington, 1985, p. 244).
Desse episódio envolvendo a pessoa de Noé, que representava os que temiam a Deus e respeitava as suas ordens, podemos acolher o perdão de Deus para a humanidade, celebrado num acordo, numa aliança, onde Deus compromete-se a não mais destruir os homens e a terra em que vivem. Os traços da misericórdia divina, o seu perdão, a sua insistência em buscar o bem para os seus filhos começam a ser identificados a partir desses textos.
O interessante é percebermos que Deus, segundo Gn 9, diz que Ele mesmo vai se lembrar da aliança estabelecida. Portanto, a iniciativa de estabelecer uma aliança com o povo, partiu de Deus, devido ao seu amor. Essa mesma característica, de tomar a iniciativa, percebe-se existente em Jesus Cristo ao instituir a Eucaristia, como trataremos mais adiante.


2. A ALIANÇA COM ABRAÃO (Gn 17,1-4)


            Toda aliança, traz o seu próprio sinal, ou pode-se dizer o seu “contrato”. Não é diferente também com as ‘alianças bíblicas’. Em particular, a aliança com Abraão traz um sinal bem específico, uma marca pessoal. Como que um registro da pertença do povo a Deus. Vejamos partes desse relato e suas características peculiares:
Deus disse a Abraão: ‘Quanto a ti, observarás a minha aliança, tu e tua raça depois de ti, de geração em geração. E eis a minha aliança, que será observada entre mim e vós, isto é, tua raça depois de ti: todos os vossos machos sejam circuncidados. Farei circuncidar a carne de vosso prepúcio, e este será o sinal da aliança entre mim e vós. Quando completarem oito dias, todos os vossos machos serão circuncidados, de geração em geração. Tanto o nascido em casa quanto o comprado por dinheiro a algum estrangeiro que não é de tua raça, deverá ser circuncidado o nascido em casa e o que for comprado por dinheiro. Minha aliança estará marcada na vossa carne como uma aliança perpétua. O incircunciso, o macho cuja carne do prepúcio não tiver sido cortada, esta vida será eliminada de sua parentela: ele violou minha aliança’ (Gn 17, 9-14, grifo nosso).

            A aliança com Abraão é uma aliança eterna, Deus não vai revogá-la e o povo não pode alterá-la ou desconsiderá-la. Agora a aliança não traz mais um sinal exterior ao homem, mas sim em sua própria carne, ou seja, em sua própria pessoa. Este aliança, não se resume apenas ao povo escolhido, os futuros israelitas, mas sim a todos os que estão com eles em forma de escravos, nascidos em seu meio ou comprados de povos estrangeiros. Todos os que convivem com eles são chamados a assumir um compromisso com Deus e obedecer as suas leis.
            Não entraremos aqui em questões conflitantes em relação à circuncisão, como a questão do perigo de infecções ou a circuncisão de mulheres, que não é mencionada no texto bíblico, mas que era praticada por alguns povos daquela época e até nos dias de hoje em alguns países da África, por exemplo. O que queremos ressaltar é que o sinal, estabelecido agora segundo o texto, marca o povo de Deus de uma forma concreta. O novo sinal é identificado na carne, através de aspersão de sangue, ou seja, de um sacrifício.
            Harrington traz em seu livro, já citado anteriormente, que no Livro do Gênesis apresenta-se um relato que pode assim explicar, ou ilustrar, o que queria dizer para o povo de Deus a circuncisão:
A versão J (Gn 15,1-21) se refere a uma antiga cerimônia de aliança muito conhecida entre muitos povos antigos: certos animais e aves eram cortados em partes iguais e postos uns contra os outros, quando os co-participantes do pacto caminhavam entre os pedaços, selando assim o tratado e invocando sobre si a maldição se o tratado fosse rompido; por isso o termo usado para fazer aliança é Karath berith, literalmente — ‘cortar um tratado’ (Harrington, 1985, p. 245).

            Com o evento “Cristo”, Verbo Encarnado, que veio não para abolir a Lei e os Profetas, mas levá-la a pleno cumprimento (Mt 5, 17), entendemos que a expressão do Gênesis, chamando a circuncisão de aliança eterna, não está errada, mas trata-se apenas de uma prefiguração do que ia realizar Cristo no mistério de Sua Paixão, Morte e Ressurreição, o que traremos mais adiante no segundo capítulo desse trabalho.


3. A ALIANÇA COM MOISÉS (Ex 19,5-8)


            Depois de terem sido libertados da escravidão do Egito, o povo de Israel celebra com Deus, no deserto, uma nova aliança. A aliança com Abraão, a circuncisão, não será abolida, como temos até hoje entre os judeus piedosos. Entretanto, a aliança de agora terá um caráter mais legislativo, onde o povo conhecerá a vontade, os mandamentos e as leis de Deus.
Alguns estudiosos de povos antigos descobriram que nos tempos bíblicos havia dois tipos de aliança, ou pacto: a) pacto de paridade (entre iguais), onde “... ambas as partes, atendo-se a termos iguais, ligam-se por obrigações bilaterais” (Harrington, 1985, p. 245); b) pacto de suserania (entre o rei e o vassalo), onde a aliança de dava “... entre um rei e seu vassalo e era unilateral” (Harrington, 1985, p. 245). Essa segunda, em vez de revelar um autoritarismo da soberania do rei, revelava a sua misericórdia em pactuar com alguém muito mais inferior, revelando a este sua benevolência. E ao vassalo, por conseguinte, cabia expressar sua gratidão e obediência para com o rei. A aliança Sinai segue esse segundo modelo (Cf. Harrington, 1985, p. 245):
‘Agora, se ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis para mim uma propriedade peculiar entre todos os povos, porque toda a terra é minha. Vós sereis para mim um reino de sacerdotes, uma nação santa. Estas são as palavras que dirás aos israelitas’. Veio Moisés, chamou os anciãos do povo e expos diante deles todas essas palavras que Iahweh lhe havia ordenado. Então todo o povo respondeu: ‘Tudo o que Iahweh disse, nós o faremos. ’ E Moisés relatou a Iahweh as palavras do povo (Ex 19, 5-8)

            Agora, a partir do acontecimento do Sinai, o povo de Deus é chamado a responder, de forma consciente ao chamado de Deus que, propõe uma aliança que resgata as propostas das anteriores e será uma “figura” da nova e eterna aliança, realizada em Jesus Cristo, principalmente no aspecto tende a salvaguardar a aliança com Deus.
            Uma característica bem peculiar da Aliança do Sinai é seu aspecto celebrativo. O povo, após a libertação da escravidão, quer “celebrar a Iahweh” e para isso submete-se a aceitar a Aliança, pois reconhecem que ela veio de um Deus que os ama e cuida de seu povo:
Deus delibera unir-se aos homens e para tanto estabelecera uma comunidade de culto dedicada ao seu serviço, governada pela sua lei, depositária de suas promessas; o Novo Testamento realizará plenamente projeto divino. Embora a Aliança fosse um livre dom de Deus a Israel, enredou-se de tal modo no destino histórico de Israel que a salvação tendia a ser considerada como a recompensa da fidelidade humana à lei. (Harrington, 1985, p. 246).


Capítulo Segundo


A NOVA E ETERNA ALIANÇA EM JESUS CRISTO



Vimos anteriormente que a palavra “aliança”, na sua expressão latina seria empregada com o termo “testamentum”.  Então podemos inferir que ao chamar todos os livros sagrados que antecedem o evento “Cristo” de Antigo Testamento, estamos nos referindo a Antiga Aliança e, por conseguinte, os livros do Novo Testamento, tratam-se da Nova Aliança:
Celebrar a Eucaristia, pela materialidade do vinho que simboliza o sangue de Cristo, significa rememorar o mistério da aliança definitiva estabelecida pelo Pai, no dom do Filho e do Espírito à Igreja. Conseqüentemente, participar da Eucaristia significa permanecer em Cristo e em sua aliança (Jo 6,56-57; 1Cor 10,16-17). A Igreja é comunhão com o sangue e o corpo de Cristo, da qual a Eucaristia é a atualização no tempo presente (1Cor 11,23-26) (Texto-base, 2001, p. 11).

Os evangelhos sinóticos trazem na narração da instituição da Eucaristia, realizada por Jesus na última ceia, algumas peculiaridades que podemos abordar para o nosso estudo sobre a Nova e Eterna Aliança:
Mt 26,26b-29:
‘Tomai e comei, isto é o meu corpo’. Depois, tomou um cálice e, dando graças, deu-o a eles dizendo: ‘Bebei dele todos, pois isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, que é derramado por muitos para remissão dos pecados’.

Mc 14,22-25:

Tomai, isto é o meu corpo’. Depois tomou um cálice, rendeu graças, deu a eles, e todos dele beberam. E disse-lhes: ‘Isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, que é derramado em favor de muitos’.

Lc 22,19-20:

E tomou um pão, deu graças, partiu e deu-o a eles, dizendo: ‘Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em minha memória’. E, depois de comer, fez o mesmo com a taca, dizendo: ‘Essa taça é a Nova Aliança em meu sangue, que é derramado por vós’.

Claro que por serem tidos como evangelhos sinóticos devam mesmo ter certas semelhanças que lhes confiram essa qualificação, donde temos que o Evangelho de João não possa mesmo ser enquadrado nessa coluna de descrição da narrativa eucarística. Entretanto, temos em João textos profundamente eucarísticos: a) no capítulo 6: o discurso sobre o pão da vida; b) no capítulo 13: o lava-pés; c) no capítulo 15: o simbolismo da videira. Também, pelo testemunho de Paulo, em 1Cor 11,23-26, temos um relato de estreita semelhança com todos os textos sinóticos.
Como vemos a semelhança entre os três textos é verificável facilmente Mas, o que gostaríamos de chamar atenção é para a questão de nos três textos aparecerem, quase que exatamente iguais a expressão “sangue da Aliança”.
Esse pequeno detalhe mostra-nos que realmente Jesus quis sintetizar em Sua Paixão, Morte e Ressurreição, através da oferta do Seu Corpo e do Seu Sangue, todas as alianças antigas nessa Nova e Eterna Aliança que não será mais revogada, abolida e nem mesmo desfeita, pois Ele, como homem vem cumpri-la definitiva por todos nós.
Jesus Cristo, tido como judeu praticante, segundo muitos historiadores, foi circuncidado no oitavo dia, recebendo em sua carne o sinal da aliança que Deus tinha estabelecido com Abraão. Porém, no Mistério da Paixão, Ele oferece-se a si mesmo, oferece o Seu Corpo, para ser novamente circuncidado (cortado), não mais por um sumo sacerdote imperfeito. Agora Ele mesmo, como diz a Igreja, é o Altar, a Vítima e o Sacerdote. E diz o escrito aos Hebreus sobre essa novidade e eficácia do Sacrifício do Senhor:
Agora, porém, Cristo possui um ministério superior. Pois é ele o mediador de uma aliança bem melhor, cuja constituição se baseia em melhores promessas. De fato, se a primeira aliança fora sem defeito, não se trataria de substituí-la pela segunda. Ele faz, com efeito, uma repreensão:

Dias virão, diz o Senhor,
nos quais realizarei com a casa de Israel
e com a casa de Judá
uma nova aliança.
Não como a aliança que fiz com os pais deles,
no dia que os conduzi pela mão,
para fazê-los sair da terra do Egito.
Pois eles mesmos
não mantiveram a minha aliança;
por isso não me interessei por eles,
diz o Senhor.
Eis a aliança pela qual ficarei unido ao povo de Israel,
depois daqueles dias, diz o Senhor:
Porei minhas leis na sua mente,
e as inscreverei no seu coração;
e eu serei seu Deus,
e eles serão meu povo.
Ninguém mais ensinará o seu próximo,
e nem o seu irmão, afirmando:
‘Conhece o Senhor!’
Porque todos me conhecerão,
do menor até o maior.
Porque terei misericórdia das suas faltas
e não me lembrarei mais dos seus pecados.

Assim sendo, ao falar de nova aliança, tornou velha a primeira. Ora, o que se torna antigo e envelhece está prestes a desaparecer (Hb 8, 6-13)

Com palavras tão claras como essas é quase uma redundância ainda tentarmos justificar o porquê da Eucaristia, que é a memória (anamnese) do mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus ser considerado como o Sacramento da Nova e Eterna Aliança. Nova é Aliança, pois novo é o Altar, novo é o Sacerdote e nova é a Vítima, assim também como novas são as promessas.
Não há mais necessidade de olharmos para o céu para ver o sinal da Aliança com Noé, o ‘arco da guerra’ estendido, colocado de lado, como sinal de que Deus não quer mais se vingar de nós, pois “... Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único (...). Pois Deus não enviou o Filho, ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3,16-17).
Não há mais necessidade de marcarmos nossos corpos, pela circuncisão, para que pelo ‘sinal do sangue’ façamos lembrança do sinal da Aliança com Abraão ou que imolemos animais, queimemos suas carnes e aspergirmos o seu sangue sobre nós para receber o perdão, pois Cristo entrou: “... uma vez por todas no Santuário, não com o sangue de bodes e de novilhos, mas com o próprio sangue, obtendo redenção eterna. De fato, se o sangue de bodes e de novilhos, e se a cinza da novilha, espalhada sobre os seres ritualmente impuros, os santifica purificando seus corpos, quanto mais o sangue de Cristo que, pelo Espírito eterno, se ofereceu a si mesmo a Deus como vítima sem mancha...” (Hb 9,12-14).
E por fim, não há mais necessidade de esperarmos que um profeta, um patriarca ou um líder suba até a montanha de Deus para ouvir a sua voz e nos transmitir os seus mandamentos, para que possamos registrar em ‘tábuas de pedra’ o que devemos fazer para sermos fiéis, lembrando a Aliança com Moisés, pois Cristo subiu à Montanha do Calvário, subiu ao Monte das Oliveiras, subiu ao Monte Tabor e tantos outros episódios, nos quais ensinou com a própria vida o que Deus nos queria falar e ensinar (Cf. Hb 1,1-2). Com isso, nos garantiu, com sua oferta justa e verdadeira, a alegria de que nós todos pudéssemos nos aproximar “... do monte Sião e da Cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste, e de milhões de anjos reunidos em festa, e da assembléia dos primogênitos cujos nomes estão inscritos nos céus, e de Deus, o Juiz de todos, e dos espíritos dos justos que chegaram à perfeição, e de Jesus, mediador da nova aliança, e do sangue da aspersão mais eloqüente que o de Abel” (Hb 12,22-24).
Uma Aliança celebrada assim, só pode mesmo ser Nova e Eterna. Nela encontramos todos os principais aspectos das primeiras alianças levadas agora à perfeição, pois agora são cumpridas por um “Verdadeiro Homem”, mas que está isento de toda sombra de pecado. E, por esse Verdadeiro Homem, ser também “Verdadeiro Deus” (assim rezamos no Credo Niceno-Constantinopolitano), tudo o que Ele realiza o faz de forma nova e eterna:
Na Eucaristia, palavra derivada do grego (verbo: eucharistô), que significa “ação de graças”, nós cristãos, celebramos o mistério da PAIXÃO-MORTE-RESSURREIÇÃO de Jesus. Celebramos então, em todas as Santas Missas, a instituição da nova e eterna aliança, selada perpetuamente entre nós e Deus, na Pessoa de Jesus Cristo, Verbo de Deus feito carne: “Esta é a compreensão da Eucaristia pelo NT: a refeição pascal dos cristãos, memória e sacramento do sacrifício de Cristo, que renova a aliança selada com seu sangue, e que nos faz partícipes da força salvadora de sua morte” (Aldazábal, 2002, p. 296).

CONCLUSÃO

            Ao concluirmos esse trabalho, percebemos que o tema da aliança, não foi descartado por Jesus. E, para isso, levou a pleno cumprimento a Lei e os Profetas, resgatando todos os aspectos que eram imperfeitos ou “figuras” da verdadeira realização da aliança em Sua própria Pessoa. No episódio da Transfiguração do Senhor, pinta-nos os artistas clássicos, com base nos textos bíblicos, Jesus com vestes resplandecentes elevado um pouco da terra, tendo ao seu lado Moisés (o representante legal da Lei) e Elias (o expoente máximo dos Profetas), como se quisessem expressar essa realidade: CRISTO – SÍNTESE E REALIZAÇAO DAS PROMESSAS DE DEUS AOS HOMENS.
            De fato, Jesus Encarnado entre nós, colheu de toda a tradição judaica as primícias de sua nova interpretação da Lei e realização das Profecias. Por isso mesmo é que nossa liturgia eucaristia ainda se mostra tão parecida com a ceia dos judeus, pois o próprio Cristo utilizou-se do que lhes era muito significativo para elevar a uma perfeição universal e completa:
Imaginar que a liturgia cristã tenha sua origem numa espécie de geração espontânea, sem pai nem mãe como Melquisedec, ou atribuir-lhe cegamente qualquer paternidade putativa que cancelasse para sempre a percepção de sua genealogia autêntica, reduziria antecipadamente todas as reconstruções a uma armação mais ou menos erudita e engenhosa de contra-sensos (Sante, 2004, 249).

Esse breve estudo leva-nos a perceber que seria muito proveitoso se em nossa catequese eucarística e litúrgica pudéssemos aproximar mais os fiéis das semelhanças entre Judaísmo e Cristianismo, sem medo e sem receios. Pois, ao olharmos esses textos do Antigo Testamento sobre a questão das “alianças” e seu impacto sobre o povo de Israel, percebemos com quanto descompromisso muitos se aproximam da Eucaristia, por não entender o sentido de sua instituição e o porquê de sua celebração diária.


BIBLIOGRAFIA

ALDAZÁBAL, José. A Eucaristia. Petrópolis: Vozes, 2002.

BÍBLIA DE JERUSALÉM. Nova edição, revista e ampliada. 5. ed. São Paulo: Paulus, 2008.

HARRINGTON, Wilfrid J. Chave para a Biblia: a revelação, a promessa, a realização. 5. ed. Sao Paulo: Paulus, 1985.

SANTE, Carmine Di. Liturgia Judaica: fontes, estrutura, orações e festas. São Paulo: Paulus, 2004.

TEXTO-BASE, 14º. Congresso Eucarístico Nacional. Eucaristia: fonte da missão e vida solidária. São Paulo: Paulus, 2001.

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