O que você queria fazer se ninguém pudesse te ver?
Um banquete só tem significado para quem tem fome. Os saciados não desejam a proximidade do alimento. A fome é o elemento chave para que possamos desejar e apreciar o banquete. Da mesma forma, o hospital não tem significado para quem está são. Somente os doentes carecem de hospitalização.
Essa comparação é simples, eu sei. Mas ela nos aproxima de uma verdade ímpar que Jesus fez questão de nos ensinar. Jesus ao preferir os pobres e miseráveis nos deixa desconcertados... “Não é justo”... Uma certeza dura; mas certa: a Eucaristia é o banquete dos miseráveis. Ela é o momento em que Deus se Poe à mesa com as escórias da humanidade, com os últimos, os menos desejados.
Miseráveis, famintos, prostituídos, doentes, legítimos representantes da fome. Fome de pão, fome de beleza, fome de dignidade, fome de amor, fome de companhia. Corações sufocados pela solidão do mundo, pelo descaso dos favorecidos e pelas arrogâncias dos fortes. A vítima é também protagonista do pecado, um efeito dominó.
É simples de entender. Pense comigo: uma mãe geralmente tende a cuidar de forma especial do filho que é mais frágil. Concorda comigo? Pois bem, o que é frágil será sempre velado, cuidado e amado.
É estranho, mas a realidade é assim! Contradição? Talvez não, os contraditórios talvez sejamos nós. Creio que você já tenha formulado as mesmas perguntas que eu, ou estou enganado? Vejamos se ao menos elas se assemelham:
E se nascêssemos sem pecado? E de Adão e Eva tivessem dito não? Por que o pecado tem que ser pecado? Será que somos condicionados a sempre escolher o mal? É necessário pecar para se aproximar de Deus?
A verdade é que todos nós sabemos o que é bom e o que nos preenche de verdade, porém há uma força que insiste em nos convencer ao mais fácil, mais saboroso... Será que a serpente ainda ronda nossas vidas?
Pensando nessa realidade por acaso me deparei com a letra de uma música do Capital Inicial que me ajudou a refletir, vale a pena citar o refrão: “O que você faz quando ninguém te vê fazendo, ou o que você queria fazer se ninguém pudesse te ver”.
Parece-me que a Teologia abraça com firmeza esse refrão ao conceituar o pecado, este que se desdobra em várias “faces”. O pecado pessoal está enraizado no pecado raiz, ou original, como preferem alguns. Porque mesmo quando ninguém me vê fazer algo eu sou recordado que este ato não condiz. Estranho ou não? E se ninguém pudesse nos ver? Aí sim eu faria... mas sempre tem alguém a me olhar...
Olhando friamente poderemos concluir que não há saída, pecar é inevitável... pois para ajudar vemos que muitas vezes o pecado abarca uma realidade estrutural, pessoas que parecem não ter opção, o pecado socioestrutural as obriga a viver numa cultura de morte!
Parece-me mais correto dizer que pecar é negar-se a participar nos projetos históricos de Deus... é o mesmo que se nós tivéssemos a certeza de que herdamos uma mansão, porém ela está situada no cume de uma montanha, a mansão é nossa, porém para chegar até ela depende de nós. Nós devemos abrir a trilha...
Uma certeza clara, mas o fato de ser custoso abrir o caminho, nós nos contentamos com uma barraquinha de lona no pé da montanha. Ademais o fato de não avistar ao menos a frente da mansão devido à enorme quantidade de vegetação não nos motiva a continuar a calejar nossas mãos e a tomar posse do que nos pertence! Repito uma das perguntas acima: Onde está a contradição?
Um exemplo atual de pecado como negação de participação nos projetos de Deus é: acreditar que tudo o que se possui é posse única, isso não propicia a partilha, pelo contrario, aumenta a ganância. Desejoso de possuir tudo esquecemos que, o segredo da felicidade está em partilharmos; se é "nosso", então vamos cuidar, investir e juntos construir sempre mais.
Pecado e conversão antes de se unir, ou um exigir do outro para existir se contrapõe! Tentando me explicar: diante do Maximo recebido por alguém, fica até “feio” darmos o mínimo não é? Ainda mais quando estamos certos que não merecemos tanto! A misericórdia sempre será o lembrete de que não vale à pena insistir em errar! Acertar vale mais a pena, pois a garantia do máximo nos impulsiona em não ser pequenos, mas a pensar grande e longe!
Não insista em dormir na sarjeta, se temos a certeza que em algum lugar há uma cama quentinha a nos esperar! Mesmo que implique caminhar um pouco mais, vale à pena! No fim veremos que o difícil é que nos garante a realização!
por Wellington Moreira
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